201 da Imigração Alemã: Cruzando o Atlântico
De 1824 até 1830 foram 42 viagens realizadas entre o continente europeu e o Brasil trazendo imigrantes, com navios partindo de diversos portos, principalmente de Hamburgo, Bremen e Amsterdã. Algumas destas embarcações realizaram mais de uma viagem, como o Creole, Fortuna, Der Kranich, Georg Friederich e Olbers. E cada um desses navios era de um tipo diferente, podendo ser classificados como veleiro, galera ou brigue. Naquele período, a travessia do Oceano Atlântico poderia durar até catorze semanas, dependendo das condições meteorológicas, da rota seguida e do tipo de navio utilizado.
“Os barcos empregados no começo do século XIX para cruzar o Oceano Atlântico eram veleiros, geralmente, de três mastros, muitas vezes fortificados ainda com canhões, pois persistia o perigo dos corsários”, explicou Hunsche em seu livro “O biênio 1824/25 da Imigração Alemã e Colonização no Rio Grande do Sul”, onde também destacou: “Para nós, no século XX, acostumados ao maior conforto em barcos transatlânticos e mesmo costeiros, as condições sob as quais os passageiros atravessavam o Oceano Atlantico eram simplesmente inacreditáveis. A travessia, de Hamburgo ao Rio de Janeiro, durava ao redor de cem dias, podendo ser menos, se os ventos fossem favoráveis, ou também mais, se as calmarias fossem prolongadas”.
A tragédia do Cäcilia
Os navios à vela eram o principal meio de transporte naquela época, e fatores como tempestades, ventos favoráveis ou desfavoráveis, e até mesmo o estado de conservação do navio influenciavam a duração da viagem. Não foram raros os casos de naufrágio, como é o famoso caso do veleiro Cäcilia, envolto em muitas lendas. Aliás, o próprio nome verdadeiro do navio era Helena Maria (“Helena en Maria”). Weissheimer nos conta que após enfrentar uma terrível tempestade que destruiu todos os seus mastros, a embarcação foi abandonada pelo capitão, que a considerou perdida. O navio ficou à deriva no Canal da Mancha até ser resgatado por um barco inglês, que o rebocou até o porto de Plymouth, na Inglaterra. Os náufragos permaneceram ali por dois anos, aguardando um novo embarque para o Brasil, o que foi viabilizado pela intervenção da imperatriz austríaca D. Amélia von Leuchtenberg durante sua viagem ao Brasil. Os passageiros do navio, que iniciaram a viagem em 1827, finalmente chegaram ao Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1829, através da galera inglesa James Laing. Esta data é comemorada até hoje no “Michelskerb” (Kerb de São Miguel) em Dois Irmãos e São José do Hortêncio, onde a maioria dos passageiros do navio se estabeleceu e depois se espalhou pela região.
Olbers & conexões familiares
Em diversas pesquisas que tenho realizado sobre a imigração, acabo me deparando com o nome Olbers. Uma destas pesquisas que realizei foi sobre as origens das famílias Schneider e Blumm, onde descobri em qual navio viajou uma antepassada dos Schneider, a imigrante Maria Catharina Schüler. Era o Olbers. Desde então, foi uma sucessão de descobertas envolvendo este famoso veleiro. E é interessante falar sobre ele justamente contando um pouco da história de Maria Catharina. Seu pai, Andreas Jacob Schüler, viajou com a família até o porto de Bremen e ali embarcou com sua esposa e prole em 26 de setembro de 1828, chegando ao porto do Rio de Janeiro em 17 de dezembro, dando entrada em Armação (hoje Niterói) em 22 de dezembro. O desembarque dos passageiros só foi concluído em 2 de janeiro de 1829. Depois disso, embarcaram em um bergantim chamado Orestes e chegaram ao Porto das Telhas somente no dia 18 de março de 1829, após uma parada no porto de Rio Grande.
Através de pesquisas sobre o veleiro, descobri por acaso: a família Streit, da minha esposa Bárbara da Silva Streit, veio nesta mesma viagem. Ou seja, foi nesse navio que os hexavôs dela, Jacob Streit (1791–1858) e Anna Girten (1793–1870) viajaram. Entretanto, temos que lembrar que o Olbers era um barco de grandes proporções e trouxe para o Brasil somente nesta viagem cerca de 874 passageiros divididos em 152 famílias.
Uma longa viagem…
Jakob era morador de Silwingen, na região do Saar, uma das mais pobres da Europa na época, próxima à fronteira da França com Luxemburgo. Embora a família não tenha fornecido detalhes sobre a viagem, há um itinerário parecido disponível em uma carta de outro imigrante que viajou no mesmo navio. Conforme descrito no livro “São Leopoldo”, de Leopoldo Petry, a viagem teria durado 49 semanas no total. O percurso começou na residência deste outro imigrante, na Província Renana, até o porto de Bremen, onde aguardaram a partida do navio. De lá, embarcaram para o Rio de Janeiro, viajaram pela costa do Brasil até Porto Alegre e, finalmente, da capital até a Colônia de São Leopoldo.
Outro testemunho sobre a viagem no Olbers traz um pouco da experiência vivida pelo agricultor e sapateiro Mathias Franzen, em carta endereçada ao seu cunhado em Trier. Em 1830, já estabelecido com a família onde hoje se localiza São José do Hortêncio relatou: “Após 4 semanas de viagem terrestre, (desde Trier) chegamos a Bremen. Após 13 semanas de demora em Bremen, subimos de barco pelo Weser e fomos encontrar o grande navio Olbers no porto de Bremerhafen. Subimos no navio, permanecemos ainda 14 dias ancorados no porto, e velejamos em direção do Mar do Norte. Navegamos felizes e com saúde através do Oceano, através do qual tivemos uma viagem penosa, porém não perigosa; nenhum de nós adoeceu, não obstante das 800 pessoas que vinham no navio entre adultos e crianças terem morrido 47, foram sepultadas nas ondas do mar. Chegamos ao Rio de Janeiro onde tivemos que ficar durante 7 semanas no armazém na periferia do Rio de Janeiro; daí então, um pequeno navio português mais uma vez velejou conosco para alto mar e em 7 dias chegamos à cidade de Rio Grande e em mais 5 dias, a Porto Alegre”.
Weissheimer relata que para evitar a atenção das autoridades, Georg Anton von Schäffer embarcava soldados disfarçados entre famílias de colonos. Ele nomeou subagentes para cuidar da documentação e transporte dos colonos até o porto de embarque em Hamburgo, enquanto ele contratava embarcações de três mastros (galeras). A viagem da Renânia até Hamburgo, feita em diligências puxadas por animais, levava cerca de quatro semanas. Em Hamburgo, os emigrantes passavam por quarentena e tinham a documentação verificada, incluindo o “certificado de cidadania brasileira” fornecido por Schäffer, que exigia a renúncia de sua terra natal. As autoridades queriam evitar que emigrantes arrependidos retornassem. Como a maioria das embarcações não foi construída com o propósito de carregar tanta gente, mas sim mercadorias, Weissheimer explica que os navios “recebiam beliches instalados na entrecoberta da embarcação para acomodar os passageiros” e que receber o certificado de cidadania brasileira, “significava também o abandono da uma pátria com instabilidade institucional, democracia precária, explosão demográfica, recessão econômica, terras exauridas e improdutivas, e que para os emigrantes significava a fuga do desemprego, da fome, da insegurança, da falta de perspectivas e do desespero”.
Olbers, o astrônomo
Considerado o maior veleiro de sua época, o trimastro Olbers faz parte da história de centenas de imigrantes. Há uma abundância de fontes sobre o veleiro, e vale destacar a origem de seu nome. Heinrich Wilhelm Matthias Olbers (1758-1840) foi um renomado médico e astrônomo de Bremen (atualmente Bremerhaven). Em sua homenagem, cinco embarcações foram batizadas com seu nome, incluindo esta que mencionamos nesta pesquisa, a primeira dos cinco navios.
Segundo Lisete Göller, do blog Memorial do Tempo, “o Olbers, de bandeira da Cidade Livre e Hanseática de Bremen, foi o veleiro mais importante e o de maior tonelagem empregado para transportar imigrantes alemães. Sua primeira viagem foi com destino ao Brasil. O Olbers foi construído nos estaleiros de Archangelsk, na Rússia, inicialmente com o nome de Elisabeth Bvoid, pertencendo à firma francesa Martin Lafitte & Cia. O trimastro foi vendido a um consórcio de comerciantes em Bremen por 80.000 mil francos franceses em 05/07/1928, passando a se chamar Olbers, em homenagem ao astrônomo Wilhelm Olbers”.
Os passageiros
Como vimos, o Olbers transportava 874 passageiros, que eram divididos em 152 famílias, contando ainda os avulsos. Nesta sua primeira viagem ao Brasil, em 1828, o navio teve um total de 40 óbitos em sua travessia, um número consideravelmente alto, em sua maior parte de crianças. Entretanto, um número igual nasceu durante a viagem, equilibrando as contas. Além dos Streit e dos Schüler, como vimos acima, vieram também famílias conhecidas na região, e que de alguma forma estão interligadas, como Barth, Becker, Berwanger, Dietrich, Feltes, Froelich, Franzen, Fritzen, Fuchs, Hörlle, Jung, Jacobsen, Kirsch, Klein, Kuhn, Ludwig, Maurer, Meyer, Müller, Ostermann, Petry, Rambo, Schuch, Schmidt, Schneider, Trott, Wagner, Weber e muitas outras.
Fontes:
HUNSCHE, Carlos H. O biênio 1824/25 da Imigração Alemã e Colonização no Rio Grande do Sul – Província de São Pedro. Porto Alegre: Nação, 1975.
HUNSCHE, Carlos H. O ano 1826 da imigração e colonização alemã no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Metropole, 1977.
LUTHER MEMORIAL. Imigração II. Disponível em: http://www.mluther.org.br/imigracao/imigracao_ii.htm. Acesso em: 17 julho 2024.
MEMORIAL DO TEMPO. Família Kossmann – 1ª parte: Ancestrais e descendentes. 16 maio 2016. Disponível em: https://memorialdotempo.blogspot.com/2016/05/familia-kossmann-1-parte-ancestrais-e_16.html. Acesso em: 17 julho 2024.
PETRY, H. E. et al. (Org.). Os Dillenburg no Brasil. Nova Petrópolis: Amstad,
1996.
PETRY, L. São Leopoldo – Berço da Colonização Alemã do Rio Grande Sul. São Leopoldo, Rotermund, 1964.
Créditos da imagem:
FEDELER, Carl Justus Harmen. Olbers. 1839. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Olbers.jpg. Acesso em: 26 jul. 2025.
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