Uma jornada de 120 anos: a história da Estação Parobé
Neste dia 15 de agosto o prédio que hoje sedia o Museu Histórico de Parobé está completando 120 de anos de muita história. A estrada de ferro entre Novo Hamburgo e Taquara foi inaugurada em 15 de agosto de 1903. Naquele dia, autoridades e população se reuniram em todas as novas estações para celebrar a inauguração do trecho da linha férrea Novo Hamburgo-Taquara, que fazia parte da linha que saía de Porto Alegre. Este novo trecho incluía as estações Hamburgo Velho, Campo Bom, Quatro Colônias, Sapiranga, Amaral Ribeiro, Araricá, Campo Vicente, Parobé e Taquara. Posteriormente, foi construído o trecho até Canela.
O processo deste novo trecho teve início anos antes, quando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul abriu um processo de concorrência para a construção deste trecho. Nesta concorrência foi apresentada somente uma proposta, que após ser examinada e estudada, foi aprovada e publicada em decreto no dia 18 de dezembro de 1899, que concedia a João Corrêa & Irmão e Augusto Carlos Legendre o direito à construção e uso e gozo de um Tramway a vapor entre Novo Hamburgo e a Vila de Taquara do Mundo Novo.
A inauguração deste trecho em 15 de agosto de 1903 foi destaque no jornal “A Federação”, em sua edição número 191, de 17 de agosto, que publicou uma reportagem com o título “Estrada de Taquara”, detalhando a chegada do trem até Taquara do Mundo Novo naquele dia histórico para a região. O relato, assinado por Evaristo Amaral, é muito interessante: “Seguiram de Porto Alegre dois comboios de seis vagões cada um, levando as autoridades e convidados. Em Sapiranga as meninas Lydia Selbel e Erminda Mathilde Flor proferiram discursos patrióticos e ofertaram flores ao Dr. Borges de Medeiros e ao Secretário das Obras Públicas, Dr. Parobé. A estação de Nova Palmeira esteve toda ornamentada de palmeiras. Helena Stein foi a menina do Colégio Distrital de Taquara que saudou o presidente Borges de Medeiros. No arco principal da ornamentação de Taquara lia-se a inscrição “Labor omnia vincit!”. (Tradução do latim: “O trabalho conquista tudo!”)”.
Na comitiva que veio de Porto Alegre estavam presentes o presidente do Rio Grande do Sul Borges de Medeiros e o engenheiro e o Secretário das Obras Públicas João José Pereira Parobé, acompanhados de Coronel Marcos de Andrade, tenentes-coronéis Affonso Massot e Francellino Cordeiro, coronel Abreu Lima, drs. Protásio Alves, Alcides Cruz, Vespasiano Corrêa, João Simplício, Faria Santos, Aurélio Junior, Felisberto Azevedo e Araújo, Fernando do Amaral Ribeiro, coronel Rodolpho Simch, tenente-coronel Domingos Martins, desembargador Carlos Flores, tenente-coronel Aurélio de Bittencourt, dentre outros oficiais, comerciantes, funcionários públicos, representantes da imprensa e a banda musical do 1º de Infantaria da Brigada Militar, etc. Um nome importante desta comitiva era Fernando do Amaral Ribeiro, comerciante e importante figura da região, além de ser o presidente da estrada de ferro Novo Hamburgo-Taquara. Além destes, embora não citados na matéria do A Federação, com certeza estavam presentes na inauguração da linha férrea e suas estações os irmãos João Corrêa e Agnelo Corrêa, responsáveis pela construção da linha férrea junto ao sócio Augusto Carlos Legendre, além de João Mosmann e familiares em Parobé. Em Taquara, havia a presença do Intendente Municipal, coronel Diniz Martins Rangel, além do Dr. Paulino Coelho de Souza, juiz da comarca, Jeronymo Neves e Coronel Abreu Lima.
Sobre as Estações Parobé e Taquara, destacou-se no jornal: “Na estação Parobé, o Sr. Fernando do Amaral ergueu um viva ao Dr. Parobé. Alas e alas de palmeiras por toda a parte. A Taquara é uma bonita vila bem cuidada, muito limpa, edificação sólida, contornável, ruas largas, comércio avultado. A administração municipal de nosso amigo coronel Diniz Rangel, por seus serviços prestados, vive prestigiada pelo apoio e confiança da população. Na sala da estação o Senhor Fernando do Amaral Ribeiro, como presidente da estrada de ferro Novo Hamburgo a Taquara, fez a saudação inicial. O trem partiu de regresso às 16h da tarde (da estação Taquara). As 16:30h deixava a estação Parobé. Na Taquara prosseguiu a festa, realizando-se à noite o banquete e bailes, reinando a máxima cordialidade e animação”.
A Estação Parobé, batizada com este nome em homenagem a João José Pereira Parobé, conhecido como Dr. Parobé, acabou nomeando também a vila, sendo a catalizadora do crescimento do povoado, pois em seu entorno começaram a surgir as primeiras casas comerciais e aos poucos novas residências seriam construídas e novas famílias chegando. Foi através da estação de trem que o povoado viu seu crescimento e desenvolvimento.
Em 1922 a linha férrea chegou até Canela, facilitando assim o escoamento da produção de farinha que aqui era produzida em abundância através das diversas atafonas na região. Em 1964, porém, este trecho da estrada de ferro entre Novo Hamburgo e Canela foi encerrada, e hoje tudo o que resta são lembranças e poucos lugares que conservam seu trajeto, como o prédio da Estação Parobé, que segue firme após 120 anos de sua inauguração, quando recebeu Borges de Medeiros e João José Pereira Parobé para uma visita histórica.
Após seu fechamento, os trilhos foram rapidamente retirados e no entorno da estação, embora a economia local estivesse em franco crescimento, a falta do trem foi sentida por todos, e assim é até os dias de hoje. Se antes uma viagem para Porto Alegre ou Canela era um pouco mais fácil a bordo de uma locomotiva, agora seria necessário depender de automóveis, caminhões e ônibus para chegar até estes locais. Até hoje há poucas opções de linhas de ônibus, tanto para Porto Alegre quanto para a serra.
O prédio da estação, então pertencente à administração municipal de Taquara, começou então a servir de sala de aula do Grupo Escolar Engenheiro Parobé, hoje Escola Estadual de Ensino Médio Engenheiro Parobé. Nas dependências do prédio foram organizadas salas para turmas do jardim e séries iniciais, ainda na década de 1960. As aulas seguiram até o início da década de 1980.
A partir de 9 de março de 1982, o local passa a sediar a Caixa Econômica Federal, por um breve tempo, até setembro de 1985. Na segunda metade da década, com a emancipação de Parobé ocorrida em 1982, o local é transformado em Câmara de Vereadores, até por volta de 1992, quando a Câmara se muda para o local atual e em seu lugar dá-se os inícios de trabalho da Biblioteca Municipal Érico Veríssimo, que por cerca de dez anos atende os estudantes e população.
Outra mudança viria a seguir: a Biblioteca Municipal Érico Veríssimo passa a atender em outro endereço e em 02 de março de 2002, através da Lei Municipal 1865, é criado o Museu Municipal de Parobé, tendo como fundadores as professoras Ligia Mosmann, Loreni Corrêa da Silva e Noeli Conceição Gil dos Santos. Desde então, o antigo prédio da estação tornou-se um importante lugar de memória da cidade, expondo ali itens de grande valor histórico.
Muito da estrutura original do prédio e do próprio entorno alterou-se com o tempo, como o aterramento da Praça 1º de Maio, que elevou o terreno em volta do prédio, deixando-o abaixo do nível do terreno. Com isso, durante muitos anos houve alagamentos que danificaram seu piso, bem como a umidade. Desta forma, por algum tempo o museu ficou fechado devido aos constantes alagamentos. Em 2014 houve uma reforma, capitaneada por Leila Gil com o apoio do Rotary e de comerciantes, que revitalizou o prédio e permitiu sua reabertura.
Em 2022 iniciou-se outra reforma interna, com a troca do piso de madeira, pintura e acabamentos. Parte do material e mão de obra foram doados pela AMUPA – Associação dos Amigos do Museu Histórico de Parobé, associação criada oficialmente em 2022 para auxiliar na manutenção e preservação do museu, bem como a realização de eventos culturais relacionados ao museu e à história do município.
Do ponto de vista histórico, não apenas do prédio em si, a Estação Parobé foi a responsável pelo desenvolvimento econômico e social do povoado, que décadas depois, se transformou em município. Foi ao seu redor que surgiram os primeiros prédios comerciais e suas duas principais ruas, a Dr. Legendre e a João Mosmann. A região central também abrigava muitas casas, com famílias que começaram a se estabelecer ali justamente com a chegada na linha férrea. Hoje tudo gira em torno desta importante construção, que contrariando o que vemos nas outras cidades em que o trem passava, ainda mantém esta história viva, e que as gerações futuras possam usufruir, assim como nós, deste importante local de memória.
Fontes:
MOSMANN, Lígia. Uma Fazenda, Um Sobrado, A Estação… Parobé, Uma História a Ser Contada. Prefeitura Municipal de Parobé. 1999.
IPHAE. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado. Patrimônio Ferroviário no Rio Grande do Sul: Inventário das Estações 1874 – 1959. Porto Alegre: Palotti, 2002.
MOEHLECKE, Germano Oscar. Estrada de Ferro – Contribuição para a história da primeira ferrovia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Rotermund, 2004.
“A Federação”, edição número 191, de 17 de agosto de 1903.
Créditos da foto:
Foto do acervo do Museu Histórico de Parobé – Editada por Maicon Leite
Projeto criado por Maicon Leite, graduando em História pela FACCAT e presidente da AMUPA (Associação dos Amigos do Museu Histórico de Parobé). Todos os direitos reservados.
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