Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes em Santa Cristina do Pinhal na década de 1980 & origens de Pinhal

Foto tirada na segunda metade da década de 1980 pelo fotógrafo Lúcio Arlindo Schirmer, da Foto Lunar. Na ocasião, o padre Rubens Luiz Schuch, que serviu à comunidade na década de 1980,liderava uma Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes em Santa Cristina do Pinhal. De acordo com Célia Maria Dias em seu TCC “A Capela De Santa Cristina Do Pinhal: Uma Referência na História da Região (1847-1892)”, onde abordou as festas realizadas na localidade, “A primeira das festas acontece no mês de fevereiro, é a de Nossa Senhora dos Navegantes, que inicia uma procissão fluvial no Passo dos Ferreiros, descendo o rio dos Sinos até a Prainha de Santa Cristina do Pinhal, de onde os fiéis seguem em caminhada, passando pela pracinha até a igreja onde é celebrada uma missa com a presença da imagem no andor bastante enfeitado”.

A Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes é um evento religioso celebrado em diversas regiões do Brasil e de outros países com tradições católicas. Essa procissão é uma homenagem à Nossa Senhora dos Navegantes, que é considerada a padroeira dos navegantes e dos pescadores. A procissão em honra a Nossa Senhora dos Navegantes geralmente acontece próxima à água, como em rios, lagos ou no mar. Os fiéis levam uma imagem da santa em um cortejo religioso, muitas vezes dentro de um barco decorado para a ocasião. As pessoas rezam, cantam hinos e realizam atos de devoção durante o percurso da procissão. Em algumas regiões, é comum que os pescadores levem seus barcos para participar da procissão, decorando-os com bandeiras e flores.

Um resumo da história da Igreja de Santa Cristina do Pinhal:

Paralelo a procissão e inteiramente ligado ao assunto, é importante lembrar que a Igreja de Santa Cristina do Pinhal é o templo religioso mais antigo da região, tendo sua capela erguida em 1847 e poucos anos depois a igreja matriz. Segundo Lígia Mosmann em seu livro “Uma Fazenda, Um Sobrado, A Estação… Parobé, Uma História A Ser Contada” (1999), no ano de 1847, pela Lei Provincial n.º 96, de 25 de novembro do mesmo ano, foi erigida uma capela com invocação de Santa Cristina do Pinhal, pela presença abundante de araucária na região. Já em 1857 a Lei N.º 404, de 18 de dezembro, elevou a capela à Freguesia, ao mesmo tempo que a ligava ao município de Porto Alegre, já que anteriormente pertencia ao município de São Leopoldo.

Angelita Vargas Peixoto, no livro “Parobé, Seu Povo, Sua História”, lançado em 1990, teceu alguns detalhes sobre os primórdios de Santa Cristina: “O processo de povoamento (de Parobé) teve início no lado esquerdo do Rio dos Sinos, onde hoje temos o distrito de Santa Cristina. Santa Cristina, com o decorrer do tempo, apresentou bom desenvolvimento, principalmente devido ao seu porto fluvial. A partir de 1846 chegaram os primeiros colonos alemães, alguns imigrantes da Alemanha e a maioria descendentes de imigrantes. Estes colonos desembarcaram no porto e Santa Cristina. Alguns ficaram no local, mas a maioria se destinou à Colônia do Mundo Novo (que deu origem a Taquara)”.

Para se ter uma ideia, naquelas primeiras décadas após sua fundação, a paróquia foi administrada por diversos padres. Em 1853 a comunidade contava com seu primeiro vigário, o Cônego Manuel Rodriguez das Neves, e neste período inicial teve ainda diversos padres espanhóis. Em 1873 o Padre Antônio Guedes Anis assumia a comunidade, bem como outros padres da região, como padres jesuítas, que trabalharam no período de 1877 a 1879. A partir de 1879 assumiu o Padre Antônio Florio e em 1882, o Padre Custódio Guedes de Assis. Depois retornou o Padre Antônio Guedes de Assis (1883 -1892). O Padre Mário Deluy atuou na paróquia de 1893 a 1897. Em 1897 foi administrador o Padre Roberto Merjer e de 1897 até 1899, o Padre Felipe Diel.

Segundo Célia Maria Dias, a paróquia de Santa Cristina do Pinhal foi “criada por Dom Feliciano José Rodrigues Prates e foi elevada à categoria de freguesia pela Assembleia provincial. Devido às más condições em que se encontrava, o bispo concedeu a instituição canônica somente em 17 de janeiro de 1865, ocasião em que nomeou o primeiro cônego Manuel Rodrigues Coelho das Neves que ali permaneceu até 1871, quando permutou com o pároco de São Martinho, Antônio Guedes de Assis, em correspondência encaminhada ao monsenhor Vicente Ferreira dos Santos Pinheiro, Vigário geral do bispado, em 11 de julho de 1883, informou “A matriz bastante em ruínas e suas alfaias quase no mesmo estado”, e em outubro do mesmo ano, insiste “esperando haver dinheiro para compostura da matriz””.

Através das pesquisas realizadas por Célia Maria Dias, sabe-se quais foram os primeiros batizados e casamentos lá realizados:

Os três primeiros batizados:

1º Registro – Amaro -1854 – escravo veio da Aldeia dos Anjos, filho de Eva, Escrava e José Joaquim Coelho.

2º Registro – Rita – 1854 – filha de Maria Antônia de Jesus, não tem nome do pai.

3º Registro – Zulmira – 1854 – filha de Joaquim Hilário da Silva e Constância Antônia dos Santos.

Os três primeiros casamentos:

1º Registro – 13 / 05 / 1855 – José Pires Martins Júnior e Paulina Martins Fibreno. 2º Registro 15 / 05 / 1855 – Antônio Alves Viana e Joaquina Maria Conceição.

3º Registro – Francisco José dos Santos e Maria Lígia de Moraes.

No Inventário do Patrimônio Cultural, Material e Imaterial do Município de Parobé consta uma pesquisa sobre Santa Cristina do Pinhal, com texto elaborado por Eduarda Farias da Silva, listando os padres que atenderam a comunidade a partir de 1873:

1873: Padre Antônio Guedes, natural de Lamego, Portugal

1880-1897: Padre Mário Deluy

1897: Padre Roberto Merjer

1899 a 1930: a capela esteve sobre a jurisdição de Taquara

1930 a 1940: Padre Felipe Marx e outros

1940 a 1976: Padre Afonso Kist (sepultado em Santa Cristina do Pinhal)

1976 a 1980: Padre Lydio Schneider

1980 a 1990: Padre Rubens Luiz Schuch (natural desta localidade)

1990 a 2007: Padre Inácio Schabarum

12/2007 a 22/04/2008: Padre Alex Graminho Boardman

2008 a 2012: Padre Paulo Muller

2012- Atual: Padre Henrique de Oliveira Neis 

Um pequeno histórico sobre Santa Cristina do Pinhal:

A história de Santa Cristina do Pinhal é complexa e recheada de interessantes acontecimentos. Célia Maria Dias contou que “Inicialmente o povoado e o próprio espaço eram denominados de Pinhal, devido à abundância de pinheiros. A partir de 1847 passou a se chamar de Santa Cristina do Pinhal, em razão da construção do templo católico que lhe deu a condição de paróquia de uma diocese e assim alcançou o status de vila. Portanto a presença da igreja se sobrepôs ao fator econômico e esta igreja passou a ser uma referência para a localidade, para os seus habitantes e para a região”.

Em 1880, Santa Cristina do Pinhal se tornava município, e assim permaneceu até 1892, quando passou a pertencer a Taquara do Mundo Novo. Anteriormente pertencente à Santo Antônio da Patrulha, Porto Alegre e por fim São Leopoldo, Pinhal sempre foi uma localidade à mercê das disputas políticas. No TCC de Célia Maria Dias podemos entender um pouco melhor este vai e vem.

Sua história começa assim: “Em 25 de novembro de 1847, foi criada a Capela de Santa Cristina do Pinhal, à margem esquerda do rio dos Sinos, no centro do 2º Distrito de São Leopoldo tendo a lei que a criou nº 96. A 15 de julho de 1848, por lei 138, foram traçados limites que cortavam a hoje cidade de Taquara, pela rua Júlio de Castilhos, de maneira que a parte leste da cidade ficava pertencendo ao município de Triunfo. Já a lei nº 152 de 07 de agosto do ano seguinte fazia com que a própria sede da Capela de Santa Cristina ficasse na Freguesia de Nossa Senhora dos Anjos da Aldeia”. A Freguesia de Nossa Senhora dos Anjos da Aldeia corresponde hoje à cidade de Gravataí.

Dez anos depois, com e Lei Nº 404 de 18 de dezembro de 1857, assinada pelo Conselheiro Ângelo Moniz da Silva Ferraz, presidente da Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, Santa Cristina é elevada à “Cathegoria de Freguesia a Capella de Santa Christina, próxima ao Rio Dos Sinos”, indicando que “Esta freguezia pertencerá ao município de Porto Alegre”.

Já em 1864, após sete anos pertencente à Porto Alegre, Santa Cristina retorna à São Leopoldo, através da Lei Nº 577, onde se diz: “A freguezia de Santa Christina do Pinhal fica pertencendo ao município de S. Leopoldo”. Sendo assim, a localidade fica mapeada da seguinte forma, conforme escrito na lei: “Esta freguezia formará o 6º districto do município de S. Leopoldo, e terá por divisas o arroio – Butiá – de sua barra no rio dos Sinos, seguindo por elle acima até encontrar a fazenda que foi de Manoel Fialho até o lugar denominado – Pinhalsinho, – seguindo até encontrar a sul Santa Cruz, seguindo a cordilheira dessa serra a encontrar a estrada que vai de Passo Grande para o Entrepellado, que passa pelo Fagundes e outros de Arroio Grande na Fazenda do Mineiro (limitando em Santo Antônio) e a rumo de norte mais ou menos até encontrar a barra do rio da Ilha, e por elle acima até encontrar a barra do Padilha, seguindo até a serra geral, que divide os campos de cima da serra e pela mesma até o campo de Canella e d’ahi a rumo d’Esta até encontrar a cordilheira da serra do Fialho e d’ahi até encontrar o Arroio Grande da Bica, e por elle abaixo até o rio dos Sinos, onde faz sua barra”.

Vila, freguesia, distrito, município… afinal, o que significa cada um destes termos?

E para situar melhor quem acompanha o projeto, cito aqui as definições de “vila”, “frequesia”, “distrito”, etc, como é o caso de Santa Cristina do Pinhal, que passou por todos estes processos denominativos. Tais denominações, aqui no Brasil, “foram se instituindo pelo uso, no decorrer do tempo, às vezes com previsão legal, às vezes apenas pelo uso ou costume”, como explicou o blog O Mochileiro. O termo “vila”, por exemplo”, “ainda que historicamente relacionado à designação de determinada categoria territorial e administrativa, em casos específicos é incorporado ao vocabulário com diversos significados. Originalmente, correspondia a uma unidade político-administrativa autônoma, equivalente ao município de hoje, trazida de Portugal para o Brasil no início da colonização”.

Sobre a “freguesia”, entende-se que “Ao redor da capela os habitantes constroem suas casas. Quando estes têm condições de manter um pároco (cura) a capela recebe a denominação de capela curada, equivalente a paróquia. A tributação (dízimo) exigida aos fiéis impõe a paróquia a delimitação de seu território. Seu raio de influência podia alcançar até centenas de quilômetros de distância. Os povoados com esse status chamavam-se freguesia”. Sendo assim, “o povoado cresce e obtém autonomia político-administrativa, recebendo câmara, cadeia e pelourinho, os podemos legislativo e executivo de hoje. Ou seja, elevação à categoria de Vila, que hoje chamamos Município”.

Num próximo momento iremos desvendar, com mais detalhes, como Santa Cristina do Pinhal se tornou uma “Vila” (município), em 1880, emancipada de São Leopoldo. Vale lembrar que Taquara do Mundo Novo, antes pertencente à Santo Antônio da Patrulha, se emancipou de Pinhal pouco tempo depois, em 1886, através do decreto de 17 de abril de 1886, quando foi denominada “Villa da Taquara do Mundo Novo”. E conforme as reviravoltas políticas da época, Pinhal passa a pertencer à Taquara a partir de 1892, e com a emancipação de Parobé 90 anos depois, em 1982, passa a fazer parte do nosso município como distrito.

Fontes:              

DIAS, Célia Maria. A Capela de Santa Cristina do Pinhal: Uma Referência na História da Região (1847-1892). TCC (Graduação) – Curso de História, Faculdades Integradas de Taquara/RS, Taquara, 2010.

ENGELMANN, Erni Guilherme. A Saga dos Alemães – do Hunsrück para o Santa Maria do Mundo Novo. Igrejinha/RS: E.G.Engelmann, 2005.

MÉRCIO, Bayard de Toledo. Os principais fatos do Município de Taquara. in KAUTZMANN, Maria Eunice Müller org. História de Taquara. Taquara: Prefeitura Municipal de Taquara, 2004. (p. 443/444).

MOSMANN, Ligia. Uma Fazenda, um sobrado, uma estação… Parobé uma história a ser contada! Parobé, 1999.

PEIXOTO, Angelita Vargas. Parobé: seu povo, sua história. Porto Alegre: Posenato Arto &. Cultura, 1990.

RAHMEIER, Andrea Helena Petry; SMANIOTTO, Elaine; Inventário do Patrimônio Cultural, Material e Imaterial do Município de Parobé. Taquara: Curso de História, FACCAT, 2022.

O Mochileiro. (2020, maio 25). Arraial, Distrito, Freguesia ou Vila? Qual a diferença? O Mochileiro.https://omochileiro.blog.br/index.php/2020/05/25/arraial-distrito-freguesia-ou-vila-qual-a-diferenca/

Créditos da foto:

Foto do acervo de Lúcio Arlindo Schirmer – digitalizada/editada por Maicon Leite

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Maicon Leite

Criador do projeto Trilhando a História de Parobé e Presidente da AMUPA - Associação dos Amigos do Museu Histórico de Parobé

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