Dossiê especial: o Dia do Plebiscito de Parobé

No dia de hoje, 28 de março, o munícipio de Parobé comemora o Dia do Plebiscito, data que marca uma importante etapa de seu processo de emancipação, oficializada somente em 1º de maio de 1982. Este processo teve início em 1981, pela Comissão Emancipacionista de Parobé, formada por membros da comunidade local.

Para dar início ao processo de emancipação, vários líderes da cidade se uniram em prol do projeto, dentre deles comerciantes, empresários e membros já atuantes da política local, alguns deles inclusive candidatos eleitos em Taquara nos anos anteriores. Com a comissão formada, é elaborada uma documentação sobre a localidade, apresentando dados como número de eleitores, relação de empresas, mapas, dados demográficos, geográficos e demais itens necessários para elaborar o dossiê. Também foram anexadas fotos, como por exemplo uma foto aérea da vila Guarani e de novos pavilhões sendo construídos para ampliação do parque industrial da Azaleia.

No artigo “O povo vai às urnas: a participação da comunidade no processo de emancipação de Parobé”, Jaison Volnir da Silva Bueno e Roswithia Weber explicam alguns dos motivos para que Parobé buscasse sua emancipação: “Parobé, na década de 1980, contava com as condições para buscar a emancipação. Sua grande arrecadação tributária, oriunda da forte indústria calçadista atuante desde a década de 1940, dava o amparo para comprovação das possibilidades de desenvolvimento local. Com a anexação de outras áreas territoriais ao processo de emancipação, a comissão responsável pelo andamento do processo conseguia atender às necessidades mínimas de população, e, por fim, a aprovação do processo pelos eleitores da localidade completava as exigências para o encaminhamento do pedido”.

A seguir, trechos da ata que elegeu a Comissão Emancipacionista do futuro munícipio de Parobé:

“Aos 5 (cinco) dias do mês de maio deste ano de 1981, na sede da Sociedade Cultural e Recreativa de Parobé, nesta localidade, reuniram-se diversos membros desta Comunidade, com a finalidade de discutirem a conveniência da criação de um novo Munícipio.

A proposta, submetida a plenário, acolhida, foi sugerida a eleição dos membros que formariam a Comissão Central Pró Emancipação de Parobé. Havendo a compreensão de chapa única, ficou assim constituída a Comissão:

Presidente: Laerte Luiz Mosmann

Vice-presidentes: José Alexandre Haack, Irineu Linden e Fredolino Pereira dos Santos

1º Secretário: Iron Bertholdo Feller

2º Secretário: Antônio Carneiro de Souza

1º Tesoureiro: Aiser Hehn

2º Tesoureiro: Ivo H. Ritter

Colaboradores: Arno Schmidt, Neucir J. Hartz, Aurélio J. Scheffel, Theno José Berlitz, Julio C. G. Pires, Luciano J. Feiten, Bruno E. Saft, Edú João Schuch, Luiz Kichler e Podalírio Trentin.

Pela unanimidade dos que subscrevem esta ata, foram outorgados plenos poderes à Comissão eleita para conduzir as demarches, visando o êxito do Movimento. Desde já, fica o Colegiado autorizado a, inclusive, dirigir-se à Assembleia Legislativa do Estado, pleiteando o credenciamento oficial de que fala a Legislação vigente. Nada mais havendo a tratar, foram encerrados os trabalhos, dos quais se lavrou a presente ata que vai assinada por todos os presentes, em número superior àquele mínimo que a lei estabelece”.

Com a Comissão Emancipacionista trabalhando com intensa dedicação, principalmente na documentação citada acima, agora era a vez de seus membros buscarem apoio na Assembleia Legislativa. Segundo Jaison em seu TCC “Emancipação Política de Parobé-RS”, “a estratégia adotada pela comissão de emancipação foi a aproximação com parlamentares, facilitando a tramitação das propostas dentro da casa. O parlamentar que veio a apoiar a causa dos emancipacionistas parobeenses, foi o deputado Ivo Mainardi, do MDB”. Essa documentação sobre a candidatura à emancipação foi enviada para o governo estadual. De posse de todas as informações, o pedido tramitava na Assembleia Legislativa em Porto Alegre. Em 25 de novembro de 1981 é autorizada a realização de consulta plebiscitária no distrito de Parobé, então pertencente à Taquara.

Em documento com assinatura do relator Ivo Mainardi, deputado estadual, e outras autoridades, consta: “Atendidas as exigências legais, este relator opina favoravelmente à realização da Consulta Plebiscitária requerida, nos Termos do Projeto de Lei anexo, em data a ser fixada pela autoridade Judiciária Eleitoral”. Com isso, é definida a data de 28 de março de 1982, um domingo, para a realização do plebiscito. Com um total de 3.976 eleitores inscritos, 1.197 eleitores decidiram se abster e não compareceram aos locais de votação. Foram 17 seções utilizadas para a votação, dentre elas escolas como o Engenheiro Parobé e escolas municipais de Morro Negro, Pinhal, Poço Fundo, Fazenda Pires, dentre outras, bem como em Campo Vicente e o CTG de Pinhal. É interessante lembrar que havia resistência por parte de moradores e lideranças políticas em relação à emancipação, principalmente de moradores de Santa Cristina do Pinhal. Entretanto, apesar de manifestações contrárias, o “sim” acabou vencendo.

Numa das fotos que ilustram a matéria, o primeiro edifício de Parobé serve de propaganda pela emancipação de Parobé. Localizada na Praça 1º de Maio, a edificação serviu como sede da administração municipal durante parte da década de 1980, enquanto o prédio próprio da prefeitura era construído.

Na outra foto, a casa do saudoso Antônio Carneiro de Souza, membro da Comissão Emancipacionista de Parobé como 2º secretário. Em escritório montado nesta casa foram realizadas diversas reuniões sobre os projetos de emancipação. Em frente à casa, uma faixa promovendo a votação: “Não se deixe enganar – VOTE SIM – Parobé – 28 de março”.

A votação teve os seguintes resultados:

Sim – 2.463 votos

Não – 273 votos

Em branco – 36 votos

Nulos – 07 votos

Total: 2.779 votos

Segundo o artigo de Jaison, as comemorações pelo resultado obtido se estenderam pela área central de Parobé, onde foi realizado um churrasco para as festividades, no barracão da Igreja Católica. A festa foi promovida pela comissão, lideranças políticas locais e empresas. O acesso às comemorações, alimentação e bebidas era completamente liberado para toda a comunidade que se fizesse presente. No artigo, é citada uma reportagem do jornal Zero Hora sobre a realização do plebiscito, publicada em 30 de março de 1982: “A apuração iniciada às 8 horas, findou às 10 horas quando até as escolas interromperam as suas aulas, para os alunos saírem às ruas para juntarem-se ao povo que cantava nas ruas a vitória do sim. Contudo, a grande comemoração promovida pela comissão emancipacionista só aconteceu após as 17 horas, com churrasco e passeata na Praça 1° de Maio, a principal do lugar e com desfiles de carros e grande presença de público. A carne, equivalente a três bois, foi toda doada”.

O dia 28 de março de 1982 é celebrado como o “Dia do Plebiscito”, ficando conhecido como o “dia do sim”, quando 2.463 futuros parobeenses votaram a favor da emancipação, enquanto 273 pessoas escolheram o “não”. Entretanto, é importante citar que dos 3.976 eleitores inscritos, 1.197 resolveram não votar, uma quantidade relativamente grande, que não afetaria o resultado final, mas, deixou claro que uma parcela da população ainda tinha suas dúvidas.

Como explicou Jaison em seu TCC, o resultado do plebiscito só seria conhecido na manhã do dia seguinte, 29 de março, uma segunda-feira. A contagem dos votos estava sendo feito no Tribunal Eleitoral em Taquara, e por volta das 9h30min da manhã a população, que acompanhava fervorosamente a apuração dos votos, ficou sabendo do resultado, e a partir de então todos passaram a comemorar a vitória do “sim”. Na matéria “Cinco mil pessoas e nenhum discurso na festa em Parobé”, do Jornal Panorama do dia 2 de abril, destacou-se a festa realizada no pavilhão da Igreja Católica, onde foi servido muito churrasco e chopp. A comemoração teve início por volta das 18h, com uma caravana de cerca de 100 carros percorrendo Parobé, passando também por Santa Cristina do Pinhal e Campo Vicente. De acordo com o jornal, foram consumidos 750 kg de carne e 2500 litros de chopp, mas que não foram suficientes para atender toda a população. Na foto, população reunida no pavilhão da Igreja Católica de Parobé, festejando o resultado do plebiscito.

Dentre as personalidades presentes, estavam políticos de Taquara, como o prefeito Tito Livio Jaeger, o candidato a deputado federal do PDT, Índio Brazileiro Cezar, o sec. de Obras de Taquara David Livi, dentre outros. Segue o relato do Panorama: “Quando a caravana, liderada pela comissão emancipacionista chegou no pavilhão, um maior contingente de pessoas começou a entrar superlotando o local. Ninguém discursou, demonstrando o cuidado que a comissão teve para nenhum partido político aproveitasse o momento de festa para projeção de seus candidatos. Aiser Hehn, um dos líderes do movimento emancipacionista, disse que, agora, a delegação de poderes que a comunidade deu para a comissão está terminando. Com isso, continuou, o povo terá que selecionar os dirigentes do novo município”.

Depois de muita festa, o clima seguiu eufórico, e no dia 26 de abril a Assembleia Legislativa assinava um documento sancionando a emancipação, e em seguida o governador José Augusto Amaral de Souza assinava a Lei N.º 7.646, de 1.º de maio de 1982, elevando Parobé a condição oficial de município. Na Lei Orgânica de Parobé também é possível verificar que o “Dia 1º de maio é a data magna do Município”.

A partir de então, inicia-se o processo para organizar os partidos locais, e no mês de novembro é realizada a primeira eleição municipal, elegendo José Alexandre Haack como prefeito e Antônio Carneiro de Souza como vice, que assumiriam em janeiro de 1983, garantindo assim a tão esperada autonomia política, marcando uma nova fase na história deste jovem município com tanta história para contar.

Fontes:

Bueno, J. V. da S., & Webber, R. . (2019). O CONTEXTO DAS EMANCIPAÇÕES NA DÉCADA DE 1980: O CASO DE PAROBÉ/RS. DESAFIOS – Revista Interdisciplinar Da Universidade Federal Do Tocantins, 6(4), 48–59. https://doi.org/10.20873/uftv6-6554

BUENO, Jaison Volnir da Silva. Emancipação Política de Parobé-RS. 2017. 96 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, 2017.

CINCO mil pessoas e nenhum discurso na festa em Parobé. Jornal Panorama, Taquara, 02 abr. 1982, p.5.

Gabinete de Consultoria Legislativa: http://www.al.rs.gov.br/FileRepository/repLegisComp/Lei%20n%C2%BA%2007.646.pdf

Lei Orgânica de Parobé: https://leismunicipais.com.br/lei-organica-parobe-rs

Prefeitura Municipal de Parobé:

https://parobe.atende.net/cidadao/pagina/a-historia-de-parobe

ROCHA, Eduarda Guilhermano. A Contribuição da Comunicação Pública no Processo de Reconhecimento da Identidade Social de um Município – Um estudo de caso na cidade de Parobé/RS. Orientador: Prof. Pedro Luiz da Silveira Osório. 2018. (Bacharelado) – Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, São Leopoldo, 2018.

Créditos das imagens:

Foto do prédio: Foto gentilmente cedida por Margareth Haack – digitalizada/editada por Maicon Leite

Foto da festa: Acervo de Jaison Volnir da Silva Bueno, retirada do Jornal Panorama e pertencente ao arquivo pessoal de Aiser Hehn.

Foto da casa: Acervo de Luiz Alberto de Souza

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Maicon Leite

Criador do projeto Trilhando a História de Parobé e Presidente da AMUPA - Associação dos Amigos do Museu Histórico de Parobé

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