Matéria especial sobre o Dia do Colono com a história e raízes de Henrique Leopoldo Hartz

Hoje celebramos o Dia do Colono aqui no Rio Grande do Sul, uma data comemorativa especial, sendo celebrado anualmente em 25 de julho. Essa data é uma homenagem aos agricultores e colonos que desempenham um papel fundamental na economia e cultura da região sul do Brasil, em especial no estado do Rio Grande do Sul. Nosso estado é conhecido por sua forte tradição agrícola e pecuária, e a agricultura é um dos pilares da economia gaúcha. Os colonos e agricultores desempenham um papel vital na produção de alimentos, cultivo de produtos agrícolas, criação de gado e outras atividades rurais.

Um aviso: o texto de hoje é grande! Tem imigração, colonos, agricultores, tafoneiros, Guerra do Paraguai, lembranças familiares, etc

A celebração do Dia do Colono e um panorama geral:

Essa data de celebração está intimamente ligada à chegada dos primeiros colonos alemães no Rio Grande do Sul. Em 25 de julho de 1824, um grupo de imigrantes alemães chegou ao Brasil para se estabelecer na região, trazendo consigo suas tradições, cultura e técnicas agrícolas. Esses colonos desempenharam um papel crucial no desenvolvimento da agricultura nestes pagos e contribuíram para a diversificação da produção agrícola no estado. Além disso, essa data também serve como um momento de reflexão sobre os desafios enfrentados pelos agricultores e colonos no estado. Questões como a modernização da agricultura, o uso sustentável dos recursos naturais, a preservação da cultura rural e a garantia de melhores condições de trabalho para os agricultores são tópicos frequentemente discutidos nessa ocasião.

Sendo mais didático, um “colono” é um termo que pode ter diferentes significados, dependendo do contexto em que é utilizado. No contexto histórico, um colono é uma pessoa que se estabelece em uma região inexplorada ou pouco povoada, geralmente com o objetivo de desenvolver atividades agrícolas ou de exploração de recursos naturais. Esses colonos são frequentemente considerados pioneiros que abrem novas áreas para o desenvolvimento humano. Além disso, o termo colono pode se referir a um imigrante que se estabelece em uma colônia, muitas vezes patrocinado ou incentivado por um governo ou uma empresa com o objetivo de ocupar e desenvolver uma área específica.

Em resumo, um colono é frequentemente alguém que se estabelece em uma área menos desenvolvida, com o objetivo de criar uma vida, desenvolver atividades econômicas e, em alguns casos, ajudar a estabelecer uma nova comunidade ou colônia. No nosso caso, embora antes da chegada dos primeiros imigrantes alemães, o Rio Grande do Sul e o Brasil já haviam recebido colonos e desbravadores de outros lugares, como os açorianos que chegaram aqui no Rio Grande do Sul em meados do século XVIII. Em 1748, ocorreu a chegada do primeiro grupo de colonos açorianos à região, enviado pelo governo português para povoar e desenvolver a área. Já vimos alguns casos de imigrantes açorianos que vieram para nossa região aqui no projeto.

Porém, dentro do contexto da comemoração do Dia do Colono, que celebra justamente a vinda dos primeiros imigrantes alemães, e para contextualizar a data, trouxemos um pouco da história do meu bisavô materno Henrique Leopoldo Hartz, nascido em 3 de maio de 1888 e falecido em 14 de fevereiro de 1966. Ele era um legitimo bisneto e neto de colonos, vindos de Harz Pikade (Picada Hartz).

Os bisavôs de Henrique Leopoldo Hartz:

Seus bisavôs eram Wilhelm Hartz (1783 – 1863) e Judica Bose (1780 – 1868), fundadores de Picada Hartz, atual Nova Hartz, ou seja, meus pentavôs por parte da mãe da minha mãe, Erna Hartz, casada com Alfred Heinrich Haag. Na Alemanha, Wilhelm e Judica viviam em Alheim, cidade do estado de Hesse (ou Hessen, em alemão). O casal partiu do porto de Hamburgo para o Rio Grande do Sul no dia 20 de setembro de 1825, a bordo do navio Der Kranich, chegando em São Leopoldo no dia 27 de fevereiro de 1826 através do navio costeiro Americana, que fez o trajeto desde o porto do Rio de Janeiro.

Na viagem, vieram o casal Wilhelm e Judica, acompanhados dos filhos Jacob Hartz (1809–1887), Conrad Hartz (1812), Johann Philipp Hartz (1814–1882) e Wilhelm Hartz (1820–1880). Após se estabelecerem na região de Hamburgo Velho, os Hartz, cujo nome original era Harz, seguiram para Campo Bom e posteriormente migraram para uma nova colônia localizada a leste do Morro Ferrabrás, a qual recebeu o nome de Picada Hartz em reconhecimento ao pioneirismo da família. Nesse novo local, floresceram e construíram suas vidas, dedicando-se à agricultura e ao árduo trabalho diário. No decorrer desse período, a família cresceu, com a chegada de Joanetta Hartz. Com uma rotina voltada para a terra, os Hartz encontraram na agricultura a fonte de subsistência, enfrentando com bravura os desafios impostos pelo trabalho na lavoura.

O pioneirismo dos Hartz:

Em texto publicado no livro Raízes de Nova Hartz, José Borges da Silva conta o seguinte sobre a ida dos Hartz para a terra que viriam a dar nome: “Já adultos, os filhos do casal Hartz casaram-se e foi necessário buscar outras terras para esses jovens casais. Assim, após o fim da Revolução Farroupilha (1845), com a província mais calma, a imigração alemã recomeçou e novos lotes de terras foram vendidos. Mas foi no ano de 1846, que Tristão Monteiro e seu sócio Eggers (cônsul alemão) começaram a vender as terras que pertenciam à margem esquerda do Arroio Grande (Arroio Grande, limite entre Taquara e São Leopoldo na época). Nessa época, os três irmãos Hartz, Jacó com sua esposa Carolina, João Felipe com sua esposa Catarina e Guilherme com sua esposa Anna Philippine Engers, adquiriram lotes de Tristão Monteiro, tendo sido estes os primeiros habitantes do povoado, que, desde então, tornou-se conhecido como Picada dos Hartz”. Interessante citar também a conexão da família Haag, que chegou ao Rio Grande do Sul em 1846, e que logo iria criar fortes laços com os Hartz: “As primeiras famílias que adquiriram lotes à direita do Arroio Grande foram os Haag, que inicialmente povoaram o local que ficou conhecido como Arroio da Bica (hoje é um bairro de Nova Hartz)”.

Os avôs de Henrique Leopoldo Hartz:

Seguindo a árvore genealógica de Henrique Leopoldo Hartz, vamos conhecer um pouco de seus avós por parte do patriarca Wilhelm Hartz. Seu avô levava o mesmo nome do pai, Wilhelm Hartz, que nasceu em 20 de junho de 1820, na cidade de Alheim, localizada no distrito de Hersfeld-Rotenburg, na região administrativa de Kassel, estado de Hessen, Alemanha. Quando nasceu, seu pai, Wilhelm Hartz, tinha 37 anos e sua mãe, Judica Bose, tinha 40 anos. Ele casou-se com Anna Philippina Engers no Rio Grande do Sul, e tiveram pelo menos 7 filhos e 5 filhas. Acumulou as funções de agricultor e mestre-sapateiro. Ele faleceu em 22 de janeiro de 1880, com 59 anos. Anna Philippina Engers, por sua vez, nasceu em 19 de janeiro de 1817, em Sonnschied, um município da Alemanha localizado no distrito de Birkenfeld, na associação municipal de Verbandsgemeinde Herrstein, no estado da Renânia-Palatinado. Quando ela nasceu, seu pai, Georg Friedrich Engers, tinha 27 anos e sua mãe, Maria Katharina Dahlheimer, tinha 29 anos. Assim como seu esposo, ela imigrou para o Brasil em 1826. Ela faleceu em 23 de janeiro de 1911, em Picada Hartz, com 94 anos.

Os Hartz na Guerra do Paraguai:

Um fato que não podemos deixar de citar é a participação de dois membros da família Hartz na sangrenta Guerra do Paraguai. O fato é que, como pontuou José Borges da Silva eu seu texto no Raízes de Nova Hartz, “com o tempo, mais colonos foram chegando, o trabalho era basicamente o da agricultura, onde todos lutavam para sobreviver aos primeiros e difíceis anos de vida em uma “Picada” sem nenhuma infraestrutura. Uma nova situação se apresentava aos colonos imigrantes, pois na condição civil, não eram mais cidadãos alemães e nem eram cidadãos brasileiros. Não podiam desfrutar aos direitos da cidadania brasileira, mas tinham que ser obedientes aos deveres civis”.

Uma dessas obrigações em servir a nova pátria era lutar na Guerra do Paraguai, fato documentado em livros e que em breve será abordado com mais ênfase no projeto Trilhando a História de Nova Hartz. Segundo José Borges da Silva, com base em levantamento de Ernani Haag, durante essa guerra (Guerra do Paraguai – 1864-1870), morreram os dois filhos mais velhos de WilhelmHartz, sendo que Wilhelm Hartz (o filho) morreu na batalha em maio de 1866, isso é, na primeira batalha do Tuiuti. Já o segundo filho, Johann Philipp, que morreu em 1867, foi vítima de uma epidemia, a cólera, que assolou um grande contingente de soldados brasileiros. Desse soldado, Johann Philipp, sabe-se que em seus últimos dias foi atendido em um hospital de Corrientes/Argentina”.

Os pais de Henrique Leopoldo Hartz:

O pai de Henrique era Johann Konrad Hartz, nascido em 16 de outubro de 1849, em Novo Hamburgo, era irmão dos Hartz que pereceram na Guerra do Paraguai. Quando ele veio ao mundo, seu pai, Wilhelm Hartz, tinha 29 anos e sua mãe, Anna Philippina Engers, tinha 32 anos. Ele casou-se com Maria Pauline Haag em 19 de abril de 1885, em Sapiranga e tiveram pelo menos 4 filhos e 4 filhas. Ele faleceu em 18 de julho de 1923, com 73 anos. Segundo o historiador Ernani Haag em seu livro “A Decisão”, o pai de Henrique, Johann Konrad Hartz, nasceu em um local chamado “Kaiserwald” (Floresta Imperial), em Novo Hamburgo, antes, portanto, de fixar moradia na nova colônia a leste do morro Ferrabraz. Maria Pauline Haag, por sua vez, nasceu em 11 de janeiro de 1861, no Arroio da Bica, em Picada Hartz, e quando ela nasceu, seu pai, Franz Peter Haag, tinha 38 anos e sua mãe, Barbara Diefenbach, tinha 24 anos. Ela faleceu em 10 de setembro de 1938, com 77 anos. Johann e Maria Pauline Haag estão sepultados no cemitério da Picada Velha, em Nova Hartz.

Enfim, Henrique Leopoldo Hartz:

E, finalmente, nosso personagem da foto. Heinrich Leopold Hartz, nascido em 3 de maio de 1888, certamente em Picada Hartz, cujo pai Johann Konrad Hartz tinha 38 anos e sua mãe, Maria Pauline Haag, tinha 27 anos, quando ele nasceu. Ele casou-se com Bertha Baum em 6 de maio de 1911, e tiveram pelo menos 6 filhos e 4 filhas. Ele faleceu em 14 de fevereiro de 1966, em Parobé, com 77 anos. Segundo lembranças da minha tia Elisabeth Haag, Henrique foi velado na casa dos meus avôs Erna e Alfredo, na antiga casa localizada na Artuino Arsand. Dentre os filhos de Heinrich e Bertha estava minha avó, Erna Hartz (02/11/1911-23/06/1980), que se casou com Alfredo Henrique Haag (27/11/1912-12/04/1982) e tiveram oito filhos, sendo eles: Erody, Irineu Natalício, Renaty, Lacy, Renato Alfredo, Loiva (minha mãe), Celomar Paulo e Elisabeth.

Lembranças e laços familiares:

Heinrich Leopold Hartz teve os seguintes irmãos, meus tios-avôs: Lorena, Edi, Helga, Erna, Ari, João, Alfredo, Beno, Ernesto e Ottomar. Infelizmente não conheci minha avó Erna, mas tive o grande privilégio de conviver com o “tio Ari” e o “tio Ottomar”, em Campo Vicente, quando seguidamente passávamos o final de semana por lá. Com o “tio Ottomar” muito andei de carreta, levando cana para sua criação de bois nas terras da família. Ele possuía uma estrebaria próximo ao Mercado Hartz, que a tia Belloni, sua esposa, cuidava. Bons tempos!

Já o “tio Ari”, casado com Nilvi Heylmann,possuía uma agropecuária na esquina de seu terreno, onde também cultivava diversas frutas, dentre elas, morangos, que eu comia direto dos pés. E vejam só que intrigante: a mãe da “tia Nilvi”, Irena Trierweiler (3 de dezembro de 1916 – 8 de setembro de 1986), casada com Albino Heylmann (21 de fevereiro de 1916 – 28 de agosto de 1984) era prima em oitavo grau do tataravô da minha esposa, João Streit Filho (29 de setembro de 1873 – 8 de outubro de 1930), casado com Adelina Henrietta Renner (15 de maio de 1878).

A atafona de Henrique:

A atafona de Henrique Leopoldo Hartz situava-se no bairro Areia Branca, ao longo da estrada que conduz a Poço Fundo. Nesta fotografia, capturada na década de 1950, Henrique posa em frente à sua atafona ao lado de seus netos Sérgio, Jussara, João e Ernane. Hoje, Ernane é um conhecido produtor de melancias e continua dedicado à sua atividade como agricultor. Ao relembrar o passado, Ernane compartilhou que, na época da foto, contava apenas com cinco anos de idade e acredita que o saudoso Ari Henrique Hartz, irmão de Henrique Leopoldo, tenha sido o responsável por registrar o momento.

Segundo o relato de Ernane Hartz, que inclusive chegou a trabalhar nessa mesma atafona e residiu em uma casa próxima, eram transportadas duas carretas carregadas com uma tonelada de mandioca cada uma, oferecendo uma visão da impressionante produtividade da época. Hoje, lamentavelmente, nem a antiga casa nem a atafona subsistem na propriedade; entretanto, permanece um arvoredo com mais de um século de existência, que traz consigo preciosas memórias a serem revisitadas.

Essa fotografia e as lembranças compartilhadas por Ernane Hartz trazem à tona um capítulo importante da história familiar, destacando o labor árduo e a dedicação de Henrique Leopoldo Hartz na sua atafona. A imagem é uma janela para o passado e evoca um tempo em que a agricultura e o trabalho manual eram alicerces fundamentais da subsistência e da prosperidade. Essas recordações, permeadas de nostalgia, servem como um elo entre gerações, mantendo viva a história dos Hartz e sua valiosa contribuição para a comunidade local.

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Créditos da foto:

Foto gentilmente cedida por Renaty Bischoff

Fontes:

HAAG, Ernani. A Decisão. Porto Alegre, Evangraf, 1996.

PRIAMO, V. I. A.; BARROSO, Vera Lucia Maciel (Org.); FÜHR, Roseli Jacinta(Org.); GROFF, Denize (Org.).Raízes de Nova Hartz: XXII Encontro dos Municipios Originàrios de Santo Antonio da Patrulha. 1ª. ed. Novo Hamburgo: Um Cultural, 2012. v. 2. 1272p.

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Maicon Leite

Criador do projeto Trilhando a História de Parobé e Presidente da AMUPA - Associação dos Amigos do Museu Histórico de Parobé

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